Adriana Amaral

Lugares que moram para sempre III, 2012/2019


Lugares que moram para sempre é uma série iniciada em 2012 e conta com três diferentes períodos, são eles: 

Lugares que moram para sempre I (2012) foi o período em que fotografei a casa de minha mãe, lugares comuns e singulares. Os objetos protagonizam e nos contam sobre seu gosto, caráter e a atitude que assumiu em relação ao mundo, além de histórias e crenças familiares;

Em Lugares que moram para sempre II (2012), dirijo meu olhar sobre a casa dos meus pais. O envelhecimento humano é abordado através da deterioração da casa onde meus pais moraram, durante 49 anos. Os mofos nas paredes, o desmanche do reboco, o piso manchado e outras decrepitudes marcam a casa e funcionam como alegoria do corpo;

Na última etapa (Lugares que moram para sempre III), realizada entre 2012 e 2019, vesti um manequim feminino com cinco peças íntimas que pertenceram à minha mãe, datadas do seu enxoval de casamento. Foram encontradas durante a mudança de meus pais, em 2012, realizada por causa de uma doença que há nove anos impossibilitou minha mãe de se locomover pela casa. Em 2013, apresentei a imagem do peignoir em Dias e Noites, uma exposição realizada na casa dos meus pais. Montada com objetos esquecidos e abandonados, a exposição contou com imagens realizadas a partir de álbuns de família, fotografias realizadas meses antes da mudança, instalação sonora e filme 8 mm. Nesses sete anos de criação da série, tenho imaginado as peças íntimas como trocas de pele. É o mesmo princípio do animal que tem a sua pele e pode trocá-la. Em zoologia temos o termo ecdise, o qual significa o processo de crescimento dos répteis e artrópodes ou muda do exoesqueleto nos animais, que apresentam este modo de crescimento. A ecdise determina as fases de crescimento desses animais. Portanto, no tratamento das imagens reconheço toda a importância de pequenos furos, rasgos, linhas soltas e manchas amareladas. Essa pele sem corpo, mas que ao mesmo tempo tem um “corpo” fantasmático a modelar essa pele. Esse “corpo” que restou depois da troca de pele é a representação da juventude, das expectativas, da família construída, dos sonhos, escolhas, anulações e desejos.

 

A série  Lugares que moram para sempre, reflete sobre memória, intimidade, relações familiares, gostos das pessoas.  A serie surgiu do pensamento principal de guardar para mim uma lembrança de como era a casa dos meus pais, a qual nasci e morei com eles por 40 anos. O material para produção das obras também foi minuciosamente pensado, assim como seus respectivos tamanhos. A maneira como as obras foram produzidas faz parte do pensamento.


Adriana Amaral